sexta-feira, 29 de março de 2013

A Busca



_ Atenção tripulação, todos aos seus postos. Expedição cancelada. Repetindo: expedição cancelada. Preparar para emergir em 10... 9... 8...


Morean ouviu o aviso com irritação. Uma vida inteira esperando aquela oportunidade e agora, por causa dos medos simplórios daquela comandantezinha idiota, tudo ia ser perdido. Sem pensar nas possíveis consequências de seu ato, cobriu a cabeça com a touca de mergulho, apanhou um cilindro de ar e colocou-o, ao mesmo tempo em que se jogava pela abertura da embarcação, nas águas negras do fundo do mar.

Aquela escuridão seria capaz de aterrorizar qualquer um, mas Morean havia se preparado por anos. Piscou algumas vezes e logo se acostumou com o breu enquanto nadava para longe do submarino, e, ele acreditava, cada vez para mais perto de seu objetivo. A equipe que Morean integrara fizera todos os cálculos infinitas vezes. Estavam perto. Ou melhor, agora ele estava perto. Podia sentir em seus ossos. E agora não precisaria dividir a glória daquela descoberta. Já o haviam chamado de louco, de obstinado, mas ele não se importava. Ainda mais no momento em que tinha a certeza de estar a poucos metros da descoberta de uma vida.

Se focasse seus olhos na direção correta sabia que começaria a divisar os contornos do Royal Rover e, dentro dele, muito mais tesouros do que qualquer marujo poderia desejar. Observou o medidor do cilindro de oxigênio e percebeu que praticamente já estava na metade. Tinha que se acalmar e poupar aquele conteúdo precioso ao máximo para dar tempo de alcançar o velho navio pirata, encontrar o que procurava e voltar.

Contudo, por mais que Morean nadasse, o Royal Rover parecia continuar à mesma distância. Apesar de toda certeza de sucesso, o explorador sentiu medo. E se ele estivesse enganado? E se os cálculos estivessem errados? E se os temores da capitã tivessem realmente fundamento? Controlando o pânico que ameaçava se instaurar, afastou os medos para um canto de sua mente e prosseguiu.

Já ultrapassara a metade do cilindro de oxigênio quando os contornos quebrados do velho navio pirata ficaram realmente perceptíveis. Com ânimo renovado, Morean aumentou o ritmo das braçadas.

Um grande buraco no casco deixava claro o motivo do naufrágio. Morean passou por ele, tocando a madeira apodrecida. Sabia exatamente aonde ir. Seguiu seu caminho retirando os pedaços do navio que agora atrapalhavam seu caminho. Em determinado momento precisou parar e vasculhar a memória do antigo mapa que se forçara a decorar ainda quando menino. Com um sorriso, rumou para a direita encontrando a entrada para a cabine do capitão. Quase com uma reverência, entrou nos aposentos, achando uma afronta dos seres marinhos terem utilizado aquele local para viverem. Olhou as paredes com calma. O pânico que estivera tentando esquecer ameaçou voltar, porém, antes que isso acontecesse, Morean o viu. Emoldurado em prata, o retrato do pirata que capitaneou a derradeira viagem daquele navio. Seu tataravô.

A emoção era tanta que Morean sentiu a cabeça girar e seu coração acelerar. Foi quando o zunido em seu ouvido começou que ele se deu conta. O oxigênio em seu cilindro estava no fim. Mas não importava, ele alcançara seu objetivo. Em algum lugar na superfície do oceano, os tripulantes do submarino contratado para a expedição, acabavam de dar por falta de Morean.




1 comentários:

Dani Nogueira disse...

A-DO-REI!!!

Bjs!

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