terça-feira, 22 de janeiro de 2013

O Plano de Bia


O Plano de Bia

_ Oi Bia, o Rafael já chegou?
_ Nando! Deus atendeu às minhas preces! - a garota exclamou, ignorando a pergunta e puxando o rapaz para o meio da sala. - Eu precisava mesmo falar com você.
_ O que houve? Cadê todo mundo? - ele perguntou, olhando ao redor, tentando encontrar o motivo de tanta comoção.
_ Não tem ninguém. – Bia comentou dando de ombros, antes de continuar apressada, atraindo novamente toda a atenção de Fernando. - Você precisa me ajudar, é coisa de vida ou morte!
_ Aconteceu alguma coisa?
_ Não. Mas vai acontecer se você não me ajudar.
_ O que foi?  Você está me deixando preocupado.
Em contraste ao cenho franzido de Fernando, Bia envergou seu sorriso mais doce junto com um olhar meigo e uma voz suave ao pedir:
_ Você precisa ser meu namorado!
_ COMO É?! Negativo!
_ Ah, Nando, me deixa pelo menos explicar, por favor! - Bia implorou, enquanto Nando sentava no sofá e ela ajoelhava ao seu lado para suplicar. - Por favor, por favor, por favor!
_ Bia, deixa de bobagem! Isso é...
_ Pedofilia?
_ Não... - ele começou a retrucar, mas de repente, se deu conta do que ela dissera e exclamou. - Também! Eu ia dizer que era loucura, mas pedofilia também serve.
Aborrecida, Bia ajeitou-se no sofá, esticando as pernas e cruzando os braços, do mesmo modo que fazia desde que era uma criança birrenta de fraldas. E então disse, como se estivesse encerrando a questão:
_ Você é só 8 anos mais velho.
_ O que me torna um adulto. Enquanto você ainda é uma criança.
_ Eu já vou fazer 18 anos!
_ No ano que vem.
_ 10 meses, mas isso não vem ao caso. Não é para ser um namoro de verdade. É só para parecer um. – Explicou, como se sua sugestão fosse tão normal quanto respirar.
Fernando encarou o rosto suplicante de Bia, listando os milhões de motivos existentes para terminar de uma vez com aquela conversa. No entanto, apenas perguntou:
_ Bia, o que você aprontou?
_ Nada de mais. – Diante do olhar descrente de Nando, Bia não viu outra saída e confessou: - Bem, eu estava conversando com algumas meninas lá da escola e elas estavam tirando o maior sarro da minha cara porque eu não tenho namorado.  Então... – Deu de ombros, dando a argumentação como encerrada.
_ Então, você mentiu, - Nando concluiu.
_ Eu não podia deixar barato, não é?
_ E por que logo eu tenho que bancar seu namorado, posso saber?
Com um meio sorriso de quem sabia que tinha acabado de fisgar Nando pela curiosidade, como sempre acontecia desde que ela se entendia por gente, Bia respondeu:
_ Na verdade não deu para escolher muito. Elas queriam uma prova e tudo que eu encontrei para usar foi uma foto sua com o Rafael, que estava enfiada junto com outras coisas na minha agenda.
_ Pelo amor de Deus!
_ Era isso ou uma foto do Taylor Lautner, mas nesse é que elas não iriam acreditar mesmo!
_ Foto de quem? Espera, não sei se eu quero saber, - Nando resmungou. - Ok, mas porque esse desespero todo? Você já não mostrou a minha foto?
_ É, mas elas não acreditaram – Bia respondeu com um biquinho.
_ Por que será, não é? – Nando perguntou bufando, sem esperar realmente por uma resposta e fazendo menção de se levantar. - Acho melhor você inventar outra mentira, ok?
_ Mas, Nando, por favor, - Bia falou mansinho, impedindo-o de ficar de pé. - É só um namoro de mentirinha! Só para provar que eu estava dizendo a verdade.
_ Mas você não estava dizendo a verdade! – Nando explodiu.
Bia nem piscou. As discussões entre eles eram tão frequentes que só superavam as dela com o irmão, Rafael. Ser o melhor amigo do irmão da garota desde antes dela nascer, havia feito com que Nando, Rafael e Bia, criassem laços que só existem em quem é criado junto. E isso incluíra sempre muita briga e confusão.
_ Ah, Nando, por favor!
Olhar dentro dos olhos de Bia havia sido um imenso erro.
_ E o que eu teria que fazer, nesse namoro de mentira?
_ Então você topa? Beleza!
_ Eu ainda não decidi.
_ Não é nada demais, sabe, você só precisaria me buscar na escola uma vez ou outra. Segurar na minha mão, me abraçar se elas estiverem olhando, esse tipo de coisa que namorados fazem.
_ Vai por mim, Bia. Você não sabe nem da metade do tipo de coisas que namorados fazem.
_ Você entendeu o que eu quis dizer.
_ Entendi. Apanhar na escola, segurar pela mão e abraçar. - Nando ainda tentou se agarrar a um fio de sanidade e exclamou: - Bia, Isso é maluquice! E é ilegal! Além de ser, no mínimo imoral. Eu vi sua mãe te dar banho e trocar suas fraldas!
_ Esquece essa parte, ok? – a garota pediu, o rosto incomumente vermelho, antes de voltar à carga. - Vai, Nando, me ajuda! Eu te implorando!
_ Eu não sei...
_ É por poucos dias. Eu juro!
A verdade era que ninguém conseguia dizer não para Bia. E Fernando não era exceção. Derrotado, balançou a cabeça e concordou.
_ Está bem, eu topo. Mas só por poucos dias.
_ Obrigada, obrigada, obrigada! – Parecendo incapaz de se controlar, Bia passou os braços pelo pescoço de Nando, enchendo sua bochecha de beijos. - Você é o melhor amigo do mundo! Obrigada!
Enquanto Bia levantava do sofá e seguia saltitante para seu quarto, Fernando apenas apoiou a cabeça nas mãos, chocado com o que acabara de concordar. Nem mesmo quando ouviu o barulho da porta se abrindo, Nando conseguiu disfarçar sua expressão.
_ Ei, o que houve? – Rafael perguntou ao encontrar o amigo prostrado no sofá da sala.
_ Nada, Rafa... Eu estou achando que vou ficar com uma dor de cabeça daquelas...

Por mais que Nando pensasse em um jeito de se ver livre da promessa que fizera, não conseguia pensar em nada que o impedisse de magoar Bia. E isso era inconcebível. Então, por mais que não quisesse, lá estava ele estacionado próximo à escola onde Bia terminava o ensino médio, aguardando o final das aulas. Assim que ouviu o sinal, saiu e encostou-se no carro, esperando por Bia conforme haviam combinado. Não demorou até a garota vir em sua direção, pendurar-se em seu pescoço e beijar rapidamente seus lábios, pegando-o de surpresa.
_ O que é isso?!
_ Um selinho, ora. A gente não está namorando? Então...
_ Que eu lembre era um namoro de mentira. Selinho, Bia? Isso não é demais não?
_ É para dar veracidade! Namorados se beijam, não é? Mas não se preocupe, nem precisa ser de língua, pode ser só selinho mesmo. - ela o encarou com um enorme sorriso que alcançava os olhos, mas franziu a testa ao reparar no semblante preocupado de Nando. - Que cara é essa?
_ Cara de quem está percebendo o tamanho da encrenca em que se enfiou.

Poucos dias depois, Nando já havia se acostumado com a rotina de buscar Bia na saída da escola. E com os beijos rápidos que trocavam e que estavam se tornando cada vez mais naturais. Por mais que dissesse a si mesmo que ele já deveria ter dado um jeito de acabar com aquela loucura, o rapaz estacionou o carro, apanhou o buquê de flores no banco de trás e foi ao encontro de Bia na entrada do colégio. Nem precisou esperar muito pela garota se despedir do rapaz com quem conversava e, em segundos, ela já se jogava em seus braços, com um sorriso imenso, antes de beijá-lo rapidamente mais uma vez.
_ Você comprou! - Bia, exclamou ainda colada em Nando.
Fernando manteve a garota presa em seus braços, aspirando aquele perfume tão conhecido, que atualmente andava embotando seu raciocínio. Depois de alguns segundos relembrou o que ia dizer e, um pouco sem jeito, soltou Bia devagar enquanto sussurrava para que ninguém além dela pudesse ouvir.
_ Depois de você repetir mil vezes, não tinha como. Eram essas mesmo?
_ Eram sim, obrigada. Minha mãe vai adorar. Ela está achando que eu me esqueci do aniversário dela.
_ Esse sorriso todo é só pela surpresa que vai fazer para sua mãe? - Nando questionou, colocando uma mecha dos cabelos de Bia, atrás da orelha, O sorriso de Bia aumentou ainda mais e seus olhos brilharam quando respondeu.
_ Claro que não! Agora todos estão vendo o namorado romântico que eu tenho e vão morrer de inveja.
Finalmente entendendo aonde Bia tinha querido chegar com aquela história toda das flores com quem ela o perturbara nos últimos dias, Nando sentiu-se um tolo. Ainda assim, sem conseguir se conter, indicou a porta do colégio e perguntou um pouco mais ríspido do que deveria.
_ Inclusive aquele carinha que estava conversando com você?
_ O André? Também... É bom para ele ver o que perdeu.
_ Ele está a fim de você?
_ Agora diz que está, mas ano passado, por mais que eu tentasse, nem olhava na minha cara.
_ Sei... - Ignorando todo bom-senso que gritava em sua cabeça, Nando abraçou Bia mais uma vez e beijou-a. Não foi um beijo intenso, apesar dele não ter resistido em mordiscar o lábio inferior dela, mas o fez pelo tempo que achou suficiente para enciumar o outro rapaz. - Agora ele já deve ter uma ideia do que perdeu.
Sem dar tempo para Bia se recuperar do choque, Fernando rumou rapidamente para o carro, rezando para chegar ao destino e deixar logo Bia em casa. Assim que estacionou, e ela saiu deixando-o sozinho, Nando apoiou a cabeça no volante e suspirou. Precisava se afastar daquela garota.
Quando Fernando tinha aceitado participar daquela história toda que Bia inventara, imaginara que seria, no final das contas, algo rápido, fácil e indolor. É claro que estava enganado. E muito. Três semanas tentando manter o controle da situação, sem saber ao certo como (e, às vezes, nem o porquê), poderia ser considerado tempo suficiente para enlouquecer qualquer um. Definitivamente não estava sendo fácil não pensar em Bia durante as 24 horas do dia, principalmente quando ela estava ao seu lado, ou o beijava de repente, ou mesmo quando ele tinha que manter um espaço aceitável entre eles em meio aos abraços. E ele sabia que quando aquela farsa toda acabasse, alguém ia sofrer. Nando só não sabia quem.
Ainda imerso nos pensamentos sobre ele e Bia, tentando se convencer que era melhor acabar tudo de uma vez, Fernando se assustou com as batidas na janela do carro. Bufou ao perceber que ainda estava estacionado próximo ao prédio dos amigos e, por isso, acabara de ser visto por Rafael.
_ Ei, algum problema? Você parece tenso.
_ Não, cara. Nada demais...
_ A gente marcou alguma coisa pra hoje? - Rafael perguntou, tentando em vão se lembrar.
_ Não. É só que... – Sem ter como explicar o que estava realmente acontecendo, Nando preferiu mentir. - Aquele livro que você me mostrou! É isso, eu vim pegar ele para ler.
_ Ok, mas por que você não subiu? Era só apanhar, como sempre, não precisava me esperar.
_Eu... Eu acabei de estacionar... – respondeu sentindo seu rosto esquentar como não acontecia há tempos.
Fernando seguiu Rafael, mais parecendo que estava subindo no cadafalso em vez do elevador. Cumprimentou os pais do amigo com monossílabos, sentindo um bolo de aflição sendo formado em sua garganta a cada minuto que passava. Estava decidido, iria acabar a sua relação com Bia e seria naquela noite.
Agarrou a oportunidade que surgiu quando Rafael precisou atender a uma ligação, para ir ao quarto de Bia, conversar com ela. Respirou fundo, se sentindo mais infeliz do que deveria e bateu na porta entreaberta anunciando sua entrada.
_ Estudando?
_ Tentando, mas, às vezes, matemática parece algo de outro mundo.
_ Me deixa ver...
Indo contra sua vontade inicial, Nando sentou-se na beira da cama perto de Bia, apanhou o livro de suas mãos e tentou se concentrar apenas nas páginas e não no cheiro da garota. O que ficou ainda mais complicado quando a voz dela atravessou seu pensamento.
_ Você e o Rafa vão sair?
_ Não... Vim pegar um livro...
_ Ah tá... Você não esqueceu que a gente combinou de ir ao cinema no sábado, né?
Pronto, o momento havia chegado. Era só ele dizer as palavras certas e cancelar o que haviam acertado. Ergueu os olhos, e encarou-a. Contou mentalmente até três e respondeu:
_ Cinema, sábado... Não, não esqueci.
Bia presenteou-o com mais um de seus sorrisos calorosos, deixando o silêncio cúmplice. Contudo, Nando precisou voltar à realidade quando Rafael entrou no quarto.
_ Te achei. O que você veio fazer no quarto da Bia?
_ Nada... Eu só estava ajudando com o trabalho de matemática.
_ Alguém tem que me ajudar com essas contas malucas, já que meu irmãozinho querido não faz.
_ Para isso que serve o Nando: ajudar você com as coisas chatas. - Rafael sorriu encarando o casal - Vem, achei o livro que você queria.
Olhando mais uma vez para Bia e soltando o ar que nem percebera que prendia, Fernando se levantou e seguiu o amigo, sabendo que tinha perdido uma oportunidade de ouro e mesmo assim, estranhamente aliviado.

O sábado chegou radiante, mas não o suficiente para amenizar o tormento dentro de Fernando. Seus pensamentos estavam concentrados em arrumar coragem para terminar aquela história com Bia, mas, mesmo assim, na hora marcada estava parado em frente ao cinema, como combinara com a garota.
Como um menino, olhou o relógio diversas vezes, achando que tinha entendido a hora errada da sessão ou que ela tivesse desistido (o que deveria ser reconfortante, mas não era), até que Bia apareceu em sua frente tal qual um raio de sol. Ignorou as pessoas que os observavam e a abraçou, já esperando o costumeiro encontrar de lábios, antes de seguirem para a segurança da semi escuridão da sala de cinema.
_ O que houve? Não está gostando do filme? – Nando perguntou, ao perceber a fisionomia desanimada de Bia.
_ Sei lá. Não prestando atenção – ela respondeu com um muxoxo, cruzando os braços.
_ Mas foi você quem quis ver esse.
_ Não. A gente tinha que ser visto nesse.
_ Certo, você queria que suas amigas nos vissem no cinema, e eu, em mais um ato de loucura, aceitei. O que você quer agora? – Nando resmungou.
_ Ai, Nando, às vezes você consegue ser mais tapado que os garotos da minha idade, sabia? - Bia exclamou, impaciente.
_ O que foi afinal?
_ É que agora elas vão perceber que eu estava mentindo.
_ Por quê?
_ Porque você não me abraçou, não me deu um mísero beijo desde que as luzes se apagaram, ou seja, não fez nada além de ficar parado aí com o braço sobre meu ombro!
_ Mas, Bia, O que você queria? O nosso namoro não é de verdade e, além disso, eu... Eu não posso!
_ Por que não? Eu sou desagradável, é isso?
_ Claro que não!
_ Então qual é o problema de você, pelo menos, me beijar? – a garota argumentou, determinada. Em seguida, em um tom quase angelical, implorou: _ Só um beijo, por favor.
_ Bia...
Olhar dentro daqueles olhos tinha sido um irremediável erro desde o início, ele sabia. Perceber todos os sentimentos que eles não conseguiam esconder, lhe desarmava de todo e qualquer argumento que Fernando conseguisse pensar. Num gesto de extremo carinho, tocou o rosto cheio de expectativa de Bia, tão nova, tão doce, e com um afago, trouxe-o para si, incapaz de se controlar por mais tempo. Os lábios se encontraram devagar. Experimentando-se, saboreando. Um gosto de chiclete, pipoca e desejo. Uma paixão que surgia intensa e desenfreada, tornando o beijo mais urgente, os pensamentos mais desconexos.
Quando as luzes do cinema foram finalmente acesas, a razão, antes esquecida, invadiu cada nervo de Fernando, trazendo consigo culpa e um tanto de confusão. Relaxou o abraço, afastando-se de Bia, mas incapaz de soltá-la realmente. Seus olhos percorreram o rosto que achava conhecer, contudo, inesperadamente estranho.
_ É melhor a gente ir andando.
_ Nando...
_ Vamos. Daqui a pouco vem alguém nos expulsar.
O trajeto do cinema até a frente do prédio de Bia foi feito em um desconfortável silêncio. E, assim que Fernando estacionou, Bia foi logo disparando:
_ Me desculpe.
_ Ahm?
_ Eu te conheço, Nando. Você está chateado, eu sei, e...
_ Olha, Bia, quem tem que pedir desculpas aqui sou eu. Eu não devia ter te beijado daquele jeito. Aquilo não deveria ter acontecido.
_ Foi... foi tão ruim assim?
_ Não... Por isso mesmo, entende? - Fernando explicou, sentindo-se culpado. - Na verdade, acho que é melhor a gente parar com essa loucura toda de uma vez, está bem?
Bia apenas anuiu – o que Fernando achou bastante incomum. Em silêncio a garota desceu do carro enquanto ele permaneceu, observando-a sumir, portaria do prédio à dentro e sentindo um buraco se abrir em seu peito.


_ Por que você não apareceu no futebol como a gente combinou? - Rafael perguntou, entrando no quarto de Fernando de supetão, no final da manhã seguinte.
_ Bom dia para você também. - Nando resmungou sem tirar os olhos dos papéis à sua frente. - Olha, não deu, ok? Tenho que terminar de ler esses relatórios e...
_ Mas você não disse que ia fazer isso ontem, por isso não poderia sair?
_ Foi, mas não consegui terminar... Vem cá, por que mesmo eu tenho que te dar satisfação da minha vida? Lembre-me porque eu esqueci.
_ Ok, não está mais aqui quem falou. - Rafael não conseguiu se lembrar da última vez que Nando lhe respondera daquele jeito e estranhou. - Está tudo bem?
Fernando fechou os olhos e respirou fundo. Fora ele quem se metera naquela confusão e não era justo descontar em Rafael. Ajeitou-se na cadeira, ficando de frente para o amigo e encarou-o, deixando de fingir prestar atenção nos papéis em sua mesa.
_ Está... Desculpe o jeito que eu falei, certo? Minha cabeça anda um tanto quente e...
_ Sem problemas. Por que a gente não... - Rafa se interrompeu ao ouvir o toque do celular em seu bolso e pediu: - Só um minuto.
Fernando precisou esperar muito menos que um minuto até que Rafael desligasse o celular com o semblante urgente.
_ O que foi?
_ Não sei. Era meu pai pedindo que eu fosse para casa agora. Parece que foi alguma coisa com a Bia.
Incapaz de controlar sua preocupação, Nando ergueu-se num pulo e perguntou:
_ Com a Bia? Ela está ferida? O que...
_ Não sei! Ele parecia preocupado... Eu vou lá. A gente se fala depois, então.
_ Espere, eu vou com você. – declarou seguindo o amigo, porta a fora, enquanto sua mente era inundada de hipóteses do que poderia ter acontecido com Bia, uma mais terrível que a outra.
Rafael e Fernando, preocupados com o que iriam encontrar, não demoraram a chegar ao apartamento. Mal entraram e Rafael foi logo sendo inquirido por seu pai:
_ Você sabia que a sua irmã estava saindo com um homem mais velho?
_ Como é?! Eu? É lógico que não. – Rafael se defendeu, ao mesmo tempo em que Nando sentia que estava prestes a ser preso em uma armadilha - Quem é esse safado?
_ Ela não quer dizer! Está tão apaixonada que só defende esse mau caráter! - dona Ana exclamou do outro lado da sala.
Bia estava vermelha, Nando não sabia se de raiva ou vergonha, mas mesmo assim tentou argumentar.
_ Não é nada disso! - esbravejou, ficando de costas para Nando. - Eu já expliquei que ele só estava me ajudando. Além do mais, não sei se vocês perceberam, mas eu já estou bem grandinha e sei me cuidar.
_ Não está parecendo! Onde você o conheceu, já que sua mãe não vê você saindo de casa? - Seu pai exigiu mais uma vez. – Diz logo quem é esse homem, Beatriz!
_ Já falei que n...
_ Sou eu. - Com quatro pares de olhos voltados para ele, Fernando engoliu em seco e se preparou para assumir sua parte naquela história. - Eu e a Bia nós... sei lá. A Bia me pediu e...
_ Eu já contei toda a história pra eles, Nando.
_ Espere um pouco, para mim ninguém contou nada. - Rafael reclamou, ainda tentando entender toda aquela situação e encarando o amigo. - Você está saindo com a minha irmã? Você? Com a Bia?!
_ Eu juro que não aconteceu nada, seu Paulo. – Fernando declarou, ignorando o queixo caído do amigo ao seu lado e, principalmente, o vislumbre de triunfo que viu nos olhos de Bia.
_ Eu nunca poderia imaginar, Fernando. Justo você? Pensei que dos três você fosse o mais ajuizado! – dona Ana afirmou, deixando os ombros caírem decepcionados.
_ Querem parar com o drama! Foram só uns selinhos para enganar as meninas no colégio. - Bia se manifestou, irritada. - Eu tive praticamente que implorar pro Nando me ajudar. Então, se quiserem dar uma bronca em alguém é em mim. Deixem ele fora disso.
_ Acho melhor você ir para casa agora, Fernando. – Rafael argumentou, com a concordância de seu pai. Todos ali sabiam que quando Bia queria, maquinava, tramava, atazanava tanto o juízo que acabava por levar a todos a concordarem a fazer o que ela queria. - Depois a gente conversa.
_ Tudo bem. Eu vejo vocês depois, Rafa, dona Ana, seu Paulo, me desculpem mais uma vez. Eu só... Eu só queria ajudar a Bia.
Fernando deu um passo para trás, encarando a garota que lhe retribuiu com um pequeno sorriso, antes de sair do apartamento que considerava como um segundo lar. Agora sabia o que um rato sentia ao ser apanhado por uma ratoeira. Conhecia Beatriz o suficiente para saber que toda aquela situação havia sido cuidadosamente alinhavada por ela. O elevador já estava quase fechando quando ouviu Bia o chamando. Segurou a porta do elevador com a ajuda do corpo e esperou que a garota o alcançasse.
_ O que foi?
_ Obrigada. Você não precisava ter se entregado.
_ Precisava sim. Era o certo. Eu não podia deixar você se responsabilizar por tudo, afinal eu sou o adulto da relação, não é mesmo?
Bia respondeu somente com um sorriso, fazendo menção de voltar para o apartamento quando Nando perguntou:
_ É verdade o que sua mãe disse? Sobre você estar apaixonada?
Dessa vez, como resposta, Bia apenas deu de ombros. Porém, antes que Fernando pudesse dizer qualquer coisa a mais, ela tomou novamente a palavra.
_ Desculpe pelo que aconteceu lá na sala, está bem?
_ Não precisa. Eu sabia muito bem onde estava me metendo quando aceitei o seu plano. – Ou pensava que sabia, admitiu para si mesmo em pensamento.
_ É só que... Eu acho tão injusto! Se fosse daqui a um ano, ninguém poderia falar nada.
_ Oito meses.
_ Ahm?
_ Daqui a oito meses ninguém vai poder falar mais nada.
_ Tanto faz, quase a mesma coisa, não é?
_ Não tem problema, eu espero.
Finalmente deixando a porta do elevador se fechar, Nando sorriu enviesado, a imagem do rosto surpreso de Bia ainda fresco na memória.


7 comentários:

Ligya M. disse...

Adorei Pri!
Amei o Nando!

Naty disse...

alçsjdakçshdfksdhj ESTOU TENDO ATAQUES DE SURTOS MEU DEUS

Pri, sério, ñ é normal eu surtar tão fácil com um casal (19 anos de vida e só surto com dois ships, um dos quais eu surto há cinco anos, então é), mas nossa, eu já me apaixonei por eles logo de cara!

Pelo plano eu sabia o q ia rolar, mas ver na visão do Nando... E EU AMEI O NANDO! *-* Vc me conquistou mesmo quando começa a parte em q ele já está habituado a ir buscá-la.

Ta, ok, eu tenho uma leve queda por melhores amigos/irmãs (hey, meus pais se conheceram assim!), e não sei se foi isso q me apaixonou nessa história, mas sério, amei!

Em um espaço pequeno vc apresentou muito os personagens e, nossa, como eu amei o Nando, mesmo!

E que final lindoooo! *-*

Arrasou DEMAIS Pri, sério!

Anônimo disse...

AH MEU DEEEEEEEEEEEUS!!!!!

Cara, a Naty me mandou esse conto e ele eh a coisa mais linda do mundo!!!! Eu sei la, mais do q o fato de eles se conhecerem desde sempre ou de terem se apaixonado, acho q oq me surtou de verdade foi ele ter dito "eu espero".

Isso foi tão, tão lindo!!!! EU AMEI cada pedacinho dessa historia! Pode ter certeza q vou mostrar p todo mundo!!!

Parabens! Maravilhosa historia!

Mas o que eu quero te dizer... disse...

Meus favoritos de sempre. Amooo esses dois. Compartilho com o maior prazer, pois sempre é uma delícia ler e reler as estripulias da Bia... e a fofice do Nando! :D

Naty disse...

Quer dizer q há mais coisinhas Bia e Nando? :o CADEEEE?

Priscila Louredo disse...

Postado não tem não Naty... :P

Obrigada a Ligya, Naty, Vickytokio e Lica, pelos comentários maravilhosos!

Unknown disse...

Adoro seus romances. Isso é um fato irrefutável! =D
Beijos, querida!

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