domingo, 14 de abril de 2013

Atendendo a Pedidos


A morte observou atentamente a dor que a mulher deixava transbordar em seu rosto. Todos ali estavam inegavelmente tristes, mas a dor da viúva se destacava das demais.

Eles haviam ficado juntos por muito tempo, muito mais do que estava previsto. Mas a morte também já se apaixonara e ficara com pena.

Havia já algum tempo que ela, a morte, se aproximara deles. Contudo, o sentimento entre o casal era tão forte que a deixara emocionada e ela acabara adiando seu trabalho. Ou, muitas vezes, trocando seu “alvo”. Por mais que tentassem, durante todos aqueles anos o casal não havia conseguido ter os tão desejados filhos. As gestações nunca eram levadas a termo.

Era uma troca. De tanto ouvir que um não podia viver sem o outro, a morte ficou tocada. Nunca ninguém a amara assim. Então, fizera uma escolha. Simples assim. E no fim, em vez de levar consigo apenas um homem, fora agraciada com oito lindas almas.

E agora, mais uma vez, a morte pensava se deveria atender ou não às vontades da mulher. Daquela mulher que agora se esvaía em lágrimas sobre o caixão. Que implorava por se juntar ao amado. Que não imaginava como seria sua vida sem ele.

Mas ela, a morte, sabia o que o futuro guardava para aquela mulher. Tinha permissão para vislumbrar o que aconteceria com aqueles com quem se importava. E como ela se importava, vira. Não ia ser logo, mas a mulher encontraria um novo amor e desse amor, finalmente, formaria uma família. Seriam felizes e viveriam muito. Tornariam-se um exemplo para muitos...

A morte observou as pessoas a sua volta, lendo seus sentimentos como se estivessem impressos em letras garrafais. Os da viúva pareciam escritos em sangue. Eram pedaços da alma.

Com um suspiro resignado, foi passando por homens e mulheres sem ser notada. Aproximou-se da viúva, oferecendo-lhe um abraço condolente. Ela a entendia. Em seguida, a morte afastou-se e saiu, deixando para trás o choque dos presentes com o mal súbito que acometeu a viúva sobre o caixão.

3 comentários:

Sônia disse...

Uau!

Anônimo disse...

Grande Pri!

Carlos Alberto Teixeira disse...

Você me enganou! �� Muito bom.

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