A morte observou atentamente a dor que a mulher deixava
transbordar em seu rosto. Todos ali estavam inegavelmente tristes, mas a dor da
viúva se destacava das demais.
Eles haviam ficado juntos por muito tempo, muito mais do que
estava previsto. Mas a morte também já se apaixonara e ficara com pena.
Havia já algum tempo que ela, a morte, se aproximara deles.
Contudo, o sentimento entre o casal era tão forte que a deixara emocionada e
ela acabara adiando seu trabalho. Ou, muitas vezes, trocando seu “alvo”. Por
mais que tentassem, durante todos aqueles anos o casal não havia conseguido ter
os tão desejados filhos. As gestações nunca eram levadas a termo.
Era uma troca. De tanto ouvir que um não podia viver sem o outro,
a morte ficou tocada. Nunca ninguém a amara assim. Então, fizera uma escolha.
Simples assim. E no fim, em vez de levar consigo apenas um homem, fora
agraciada com oito lindas almas.
E agora, mais uma vez, a morte pensava se deveria atender ou
não às vontades da mulher. Daquela mulher que agora se esvaía em lágrimas sobre
o caixão. Que implorava por se juntar ao amado. Que não imaginava como seria
sua vida sem ele.
Mas ela, a morte, sabia o que o futuro guardava para aquela
mulher. Tinha permissão para vislumbrar o que aconteceria com aqueles com quem
se importava. E como ela se importava, vira. Não ia ser logo, mas a mulher
encontraria um novo amor e desse amor, finalmente, formaria uma família. Seriam
felizes e viveriam muito. Tornariam-se um exemplo para muitos...
A morte observou as pessoas a sua volta, lendo seus
sentimentos como se estivessem impressos em letras garrafais. Os da viúva
pareciam escritos em sangue. Eram pedaços da alma.
Com um suspiro resignado, foi passando por homens e mulheres
sem ser notada. Aproximou-se da viúva, oferecendo-lhe um abraço condolente. Ela
a entendia. Em seguida, a morte afastou-se e saiu, deixando para trás o choque
dos presentes com o mal súbito que acometeu a viúva sobre o caixão.
3 comentários:
Uau!
Grande Pri!
Você me enganou! �� Muito bom.
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