_ Oi Bia, o Rafael já
chegou?
_ Nando! Deus atendeu às
minhas preces! - a garota exclamou, ignorando a pergunta e puxando o rapaz para
o meio da sala. - Eu precisava mesmo falar com você.
_ O que houve? Cadê todo
mundo? - ele perguntou, olhando ao redor, tentando encontrar o motivo de tanta
comoção.
_ Não tem ninguém. – Bia
comentou dando de ombros, antes de continuar apressada, atraindo novamente toda
a atenção de Fernando. - Você precisa me ajudar, é coisa de vida ou morte!
_ Aconteceu alguma coisa?
_ Não. Mas vai acontecer
se você não me ajudar.
Em contraste ao cenho
franzido de Fernando, Bia envergou seu sorriso mais doce junto com um olhar
meigo e uma voz suave ao pedir:
_ Você precisa ser meu
namorado!
_ COMO É?! Negativo!
_ Ah, Nando, me deixa pelo
menos explicar, por favor! - Bia implorou, enquanto Nando sentava no sofá e ela
ajoelhava ao seu lado para suplicar. - Por favor, por favor, por favor!
_ Bia, deixa de bobagem! Isso
é...
_ Pedofilia?
_ Não... - ele começou a
retrucar, mas de repente, se deu conta do que ela dissera e exclamou. - Também!
Eu ia dizer que era loucura, mas pedofilia também serve.
Aborrecida, Bia ajeitou-se
no sofá, esticando as pernas e cruzando os braços, do mesmo modo que fazia
desde que era uma criança birrenta de fraldas. E então disse, como se estivesse
encerrando a questão:
_ Você é só 8 anos mais
velho.
_ O que me torna um adulto.
Enquanto você ainda é uma criança.
_ Eu já vou fazer 18 anos!
_ No ano que vem.
_ 10 meses, mas isso não
vem ao caso. Não é para ser um namoro de verdade. É só para parecer um. –
Explicou, como se sua sugestão fosse tão normal quanto respirar.
Fernando encarou o rosto
suplicante de Bia, listando os milhões de motivos existentes para terminar de
uma vez com aquela conversa. No entanto, apenas perguntou:
_ Bia, o que você
aprontou?
_ Nada de mais. – Diante
do olhar descrente de Nando, Bia não viu outra saída e confessou: - Bem, eu
estava conversando com algumas meninas lá da escola e elas estavam tirando o
maior sarro da minha cara porque eu não tenho namorado. Então... – Deu de
ombros, dando a argumentação como encerrada.
_ Então, você mentiu, -
Nando concluiu.
_ Eu não podia deixar
barato, não é?
_ E por que logo eu tenho
que bancar seu namorado, posso saber?
Com um meio sorriso de
quem sabia que tinha acabado de fisgar Nando pela curiosidade, como sempre
acontecia desde que ela se entendia por gente, Bia respondeu:
_ Na verdade não deu para
escolher muito. Elas queriam uma prova e tudo que eu encontrei para usar foi
uma foto sua com o Rafael, que estava enfiada junto com outras coisas na minha
agenda.
_ Pelo amor de Deus!
_ Era isso ou uma foto do
Taylor Lautner, mas nesse é que elas
não iriam acreditar mesmo!
_ Foto de quem? Espera,
não sei se eu quero saber, - Nando resmungou. - Ok, mas porque esse desespero
todo? Você já não mostrou a minha foto?
_ É, mas elas não
acreditaram – Bia respondeu com um biquinho.
_ Por que será, não é? –
Nando perguntou bufando, sem esperar realmente por uma resposta e fazendo
menção de se levantar. - Acho melhor você inventar outra mentira, ok?
_ Mas, Nando, por favor, -
Bia falou mansinho, impedindo-o de ficar de pé. - É só um namoro de mentirinha!
Só para provar que eu estava dizendo a verdade.
_ Mas você não estava
dizendo a verdade! – Nando explodiu.
Bia nem piscou. As
discussões entre eles eram tão frequentes que só superavam as dela com o irmão,
Rafael. Ser o melhor amigo do irmão da garota desde antes dela nascer, havia
feito com que Nando, Rafael e Bia, criassem laços que só existem em quem é
criado junto. E isso incluíra sempre muita briga e confusão.
_ Ah, Nando, por favor!
Olhar dentro dos olhos de
Bia havia sido um imenso erro.
_ E o que eu teria que
fazer, nesse namoro de mentira?
_ Então você topa? Beleza!
_ Eu ainda não decidi.
_ Não é nada demais, sabe,
você só precisaria me buscar na escola uma vez ou outra. Segurar na minha mão,
me abraçar se elas estiverem olhando, esse tipo de coisa que namorados fazem.
_ Vai por mim, Bia. Você
não sabe nem da metade do tipo de coisas que namorados fazem.
_ Você entendeu o que eu
quis dizer.
_ Entendi. Apanhar na
escola, segurar pela mão e abraçar. - Nando ainda tentou se agarrar a um fio de
sanidade e exclamou: - Bia, Isso é maluquice! E é ilegal! Além de ser, no
mínimo imoral. Eu vi sua mãe te dar banho e trocar suas fraldas!
_ Esquece essa parte, ok? –
a garota pediu, o rosto incomumente vermelho, antes de voltar à carga. - Vai,
Nando, me ajuda! Eu tô te implorando!
_ Eu não sei...
_ É por poucos dias. Eu
juro!
A verdade era que ninguém
conseguia dizer não para Bia. E Fernando não era exceção. Derrotado, balançou a
cabeça e concordou.
_ Está bem, eu topo. Mas
só por poucos dias.
_ Obrigada, obrigada,
obrigada! – Parecendo incapaz de se controlar, Bia passou os braços pelo
pescoço de Nando, enchendo sua bochecha de beijos. - Você é o melhor amigo do
mundo! Obrigada!
Enquanto Bia levantava do
sofá e seguia saltitante para seu quarto, Fernando apenas apoiou a cabeça nas
mãos, chocado com o que acabara de concordar. Nem mesmo quando ouviu o barulho
da porta se abrindo, Nando conseguiu disfarçar sua expressão.
_ Ei, o que houve? –
Rafael perguntou ao encontrar o amigo prostrado no sofá da sala.
_ Nada, Rafa... Eu estou
achando que vou ficar com uma dor de cabeça daquelas...
Por mais que Nando
pensasse em um jeito de se ver livre da promessa que fizera, não conseguia
pensar em nada que o impedisse de magoar Bia. E isso era inconcebível. Então,
por mais que não quisesse, lá estava ele estacionado próximo à escola onde Bia
terminava o ensino médio, aguardando o final das aulas. Assim que ouviu o
sinal, saiu e encostou-se no carro, esperando por Bia conforme haviam
combinado. Não demorou até a garota vir em sua direção, pendurar-se em seu
pescoço e beijar rapidamente seus lábios, pegando-o de surpresa.
_ O que é isso?!
_ Um selinho, ora. A gente
não está namorando? Então...
_ Que eu lembre era um
namoro de mentira. Selinho, Bia? Isso não é demais não?
_ É para dar veracidade!
Namorados se beijam, não é? Mas não se preocupe, nem precisa ser de língua,
pode ser só selinho mesmo. - ela o encarou com um enorme sorriso que alcançava
os olhos, mas franziu a testa ao reparar no semblante preocupado de Nando. - Que
cara é essa?
_ Cara de quem está
percebendo o tamanho da encrenca em que se enfiou.
Poucos dias depois, Nando
já havia se acostumado com a rotina de buscar Bia na saída da escola. E com os
beijos rápidos que trocavam e que estavam se tornando cada vez mais naturais.
Por mais que dissesse a si mesmo que ele já deveria ter dado um jeito de acabar
com aquela loucura, o rapaz estacionou o carro, apanhou o buquê de flores no
banco de trás e foi ao encontro de Bia na entrada do colégio. Nem precisou
esperar muito pela garota se despedir do rapaz com quem conversava e, em
segundos, ela já se jogava em seus braços, com um sorriso imenso, antes de
beijá-lo rapidamente mais uma vez.
_ Você comprou! - Bia,
exclamou ainda colada em Nando.
Fernando manteve a garota
presa em seus braços, aspirando aquele perfume tão conhecido, que atualmente
andava embotando seu raciocínio. Depois de alguns segundos relembrou o que ia
dizer e, um pouco sem jeito, soltou Bia devagar enquanto sussurrava para que
ninguém além dela pudesse ouvir.
_ Depois de você repetir
mil vezes, não tinha como. Eram essas mesmo?
_ Eram sim, obrigada.
Minha mãe vai adorar. Ela está achando que eu me esqueci do aniversário dela.
_ Esse sorriso todo é só
pela surpresa que vai fazer para sua mãe? - Nando questionou, colocando uma
mecha dos cabelos de Bia, atrás da orelha, O sorriso de Bia aumentou ainda mais
e seus olhos brilharam quando respondeu.
_ Claro que não! Agora
todos estão vendo o namorado romântico que eu tenho e vão morrer de inveja.
Finalmente entendendo
aonde Bia tinha querido chegar com aquela história toda das flores com quem ela
o perturbara nos últimos dias, Nando sentiu-se um tolo. Ainda assim, sem
conseguir se conter, indicou a porta do colégio e perguntou um pouco mais
ríspido do que deveria.
_ Inclusive aquele carinha
que estava conversando com você?
_ O André? Também... É bom
para ele ver o que perdeu.
_ Ele está a fim de você?
_ Agora diz que está, mas
ano passado, por mais que eu tentasse, nem olhava na minha cara.
_ Sei... - Ignorando todo
bom-senso que gritava em sua cabeça, Nando abraçou Bia mais uma vez e beijou-a.
Não foi um beijo intenso, apesar dele não ter resistido em mordiscar o lábio
inferior dela, mas o fez pelo tempo que achou suficiente para enciumar o outro
rapaz. - Agora ele já deve ter uma ideia do que perdeu.
Sem dar tempo para Bia se
recuperar do choque, Fernando rumou rapidamente para o carro, rezando para
chegar ao destino e deixar logo Bia em casa. Assim que estacionou, e ela saiu
deixando-o sozinho, Nando apoiou a cabeça no volante e suspirou. Precisava se
afastar daquela garota.
Quando Fernando tinha
aceitado participar daquela história toda que Bia inventara, imaginara que
seria, no final das contas, algo rápido, fácil e indolor. É claro que estava
enganado. E muito. Três semanas tentando manter o controle da situação, sem
saber ao certo como (e, às vezes, nem o porquê), poderia ser considerado tempo
suficiente para enlouquecer qualquer um. Definitivamente não estava sendo fácil
não pensar em Bia durante as 24 horas do dia, principalmente quando ela estava
ao seu lado, ou o beijava de repente, ou mesmo quando ele tinha que manter um
espaço aceitável entre eles em meio aos abraços. E ele sabia que quando aquela
farsa toda acabasse, alguém ia sofrer. Nando só não sabia quem.
Ainda imerso nos
pensamentos sobre ele e Bia, tentando se convencer que era melhor acabar tudo
de uma vez, Fernando se assustou com as batidas na janela do carro. Bufou ao
perceber que ainda estava estacionado próximo ao prédio dos amigos e, por isso,
acabara de ser visto por Rafael.
_ Ei, algum problema? Você
parece tenso.
_ Não, cara. Nada
demais...
_ A gente marcou alguma
coisa pra hoje? - Rafael perguntou, tentando em vão se lembrar.
_ Não. É só que... – Sem
ter como explicar o que estava realmente acontecendo, Nando preferiu mentir. - Aquele
livro que você me mostrou! É isso, eu vim pegar ele para ler.
_ Ok, mas por que você não
subiu? Era só apanhar, como sempre, não precisava me esperar.
_Eu... Eu acabei de
estacionar... – respondeu sentindo seu rosto esquentar como não acontecia há
tempos.
Fernando seguiu Rafael,
mais parecendo que estava subindo no cadafalso em vez do elevador. Cumprimentou
os pais do amigo com monossílabos, sentindo um bolo de aflição sendo formado em
sua garganta a cada minuto que passava. Estava decidido, iria acabar a sua
relação com Bia e seria naquela noite.
Agarrou a oportunidade que
surgiu quando Rafael precisou atender a uma ligação, para ir ao quarto de Bia,
conversar com ela. Respirou fundo, se sentindo mais infeliz do que deveria e
bateu na porta entreaberta anunciando sua entrada.
_ Estudando?
_ Tentando, mas, às vezes,
matemática parece algo de outro mundo.
_ Me deixa ver...
Indo contra sua vontade
inicial, Nando sentou-se na beira da cama perto de Bia, apanhou o livro de suas
mãos e tentou se concentrar apenas nas páginas e não no cheiro da garota. O que
ficou ainda mais complicado quando a voz dela atravessou seu pensamento.
_ Você e o Rafa vão sair?
_ Não... Vim pegar um
livro...
_ Ah tá... Você não
esqueceu que a gente combinou de ir ao cinema no sábado, né?
Pronto, o momento havia
chegado. Era só ele dizer as palavras certas e cancelar o que haviam acertado.
Ergueu os olhos, e encarou-a. Contou mentalmente até três e respondeu:
_ Cinema, sábado... Não,
não esqueci.
Bia presenteou-o com mais
um de seus sorrisos calorosos, deixando o silêncio cúmplice. Contudo, Nando
precisou voltar à realidade quando Rafael entrou no quarto.
_ Te achei. O que você
veio fazer no quarto da Bia?
_ Nada... Eu só estava
ajudando com o trabalho de matemática.
_ Alguém tem que me ajudar
com essas contas malucas, já que meu irmãozinho querido não faz.
_ Para isso que serve o
Nando: ajudar você com as coisas chatas. - Rafael sorriu encarando o casal - Vem,
achei o livro que você queria.
Olhando mais uma vez para
Bia e soltando o ar que nem percebera que prendia, Fernando se levantou e
seguiu o amigo, sabendo que tinha perdido uma oportunidade de ouro e mesmo
assim, estranhamente aliviado.
O sábado chegou radiante,
mas não o suficiente para amenizar o tormento dentro de Fernando. Seus pensamentos
estavam concentrados em arrumar coragem para terminar aquela história com Bia,
mas, mesmo assim, na hora marcada estava parado em frente ao cinema, como
combinara com a garota.
Como um menino, olhou o
relógio diversas vezes, achando que tinha entendido a hora errada da sessão ou
que ela tivesse desistido (o que deveria ser reconfortante, mas não era), até
que Bia apareceu em sua frente tal qual um raio de sol. Ignorou as pessoas que
os observavam e a abraçou, já esperando o costumeiro encontrar de lábios, antes
de seguirem para a segurança da semi escuridão da sala de cinema.
_ O que houve? Não está
gostando do filme? – Nando perguntou, ao perceber a fisionomia desanimada de
Bia.
_ Sei lá. Não tô prestando atenção – ela respondeu com
um muxoxo, cruzando os braços.
_ Mas foi você quem quis
ver esse.
_ Não. A gente tinha que
ser visto nesse.
_ Certo, você queria que
suas amigas nos vissem no cinema, e eu, em mais um ato de loucura, aceitei. O
que você quer agora? – Nando resmungou.
_ Ai, Nando, às vezes você
consegue ser mais tapado que os garotos da minha idade, sabia? - Bia exclamou,
impaciente.
_ O que foi afinal?
_ É que agora elas vão
perceber que eu estava mentindo.
_ Por quê?
_ Porque você não me
abraçou, não me deu um mísero beijo desde que as luzes se apagaram, ou seja,
não fez nada além de ficar parado aí com o braço sobre meu ombro!
_ Mas, Bia, O que você
queria? O nosso namoro não é de verdade e, além disso, eu... Eu não posso!
_ Por que não? Eu sou
desagradável, é isso?
_ Claro que não!
_ Então qual é o problema
de você, pelo menos, me beijar? – a garota argumentou, determinada. Em seguida,
em um tom quase angelical, implorou: _ Só um beijo, por favor.
_ Bia...
Olhar dentro daqueles
olhos tinha sido um irremediável erro desde o início, ele sabia. Perceber todos
os sentimentos que eles não conseguiam esconder, lhe desarmava de todo e
qualquer argumento que Fernando conseguisse pensar. Num gesto de extremo
carinho, tocou o rosto cheio de expectativa de Bia, tão nova, tão doce, e com
um afago, trouxe-o para si, incapaz de se controlar por mais tempo. Os lábios
se encontraram devagar. Experimentando-se, saboreando. Um gosto de chiclete,
pipoca e desejo. Uma paixão que surgia intensa e desenfreada, tornando o beijo
mais urgente, os pensamentos mais desconexos.
Quando as luzes do cinema
foram finalmente acesas, a razão, antes esquecida, invadiu cada nervo de
Fernando, trazendo consigo culpa e um tanto de confusão. Relaxou o abraço,
afastando-se de Bia, mas incapaz de soltá-la realmente. Seus olhos percorreram
o rosto que achava conhecer, contudo, inesperadamente estranho.
_ É melhor a gente ir
andando.
_ Nando...
_ Vamos. Daqui a pouco vem
alguém nos expulsar.
O trajeto do cinema até a
frente do prédio de Bia foi feito em um desconfortável silêncio. E, assim que
Fernando estacionou, Bia foi logo disparando:
_ Me desculpe.
_ Ahm?
_ Eu te conheço, Nando. Você
está chateado, eu sei, e...
_ Olha, Bia, quem tem que
pedir desculpas aqui sou eu. Eu não devia ter te beijado daquele jeito. Aquilo
não deveria ter acontecido.
_ Foi... foi tão ruim
assim?
_ Não... Por isso mesmo,
entende? - Fernando explicou, sentindo-se culpado. - Na verdade, acho que é
melhor a gente parar com essa loucura toda de uma vez, está bem?
Bia apenas anuiu – o que
Fernando achou bastante incomum. Em silêncio a garota desceu do carro enquanto
ele permaneceu, observando-a sumir, portaria do prédio à dentro e sentindo um
buraco se abrir em seu peito.
_ Por que você não
apareceu no futebol como a gente combinou? - Rafael perguntou, entrando no
quarto de Fernando de supetão, no final da manhã seguinte.
_ Bom dia para você
também. - Nando resmungou sem tirar os olhos dos papéis à sua frente. - Olha,
não deu, ok? Tenho que terminar de ler esses relatórios e...
_ Mas você não disse que
ia fazer isso ontem, por isso não poderia sair?
_ Foi, mas não consegui
terminar... Vem cá, por que mesmo eu tenho que te dar satisfação da minha vida?
Lembre-me porque eu esqueci.
_ Ok, não está mais aqui
quem falou. - Rafael não conseguiu se lembrar da última vez que Nando lhe
respondera daquele jeito e estranhou. - Está tudo bem?
Fernando fechou os olhos e
respirou fundo. Fora ele quem se metera naquela confusão e não era justo
descontar em Rafael. Ajeitou-se na cadeira, ficando de frente para o amigo e
encarou-o, deixando de fingir prestar atenção nos papéis em sua mesa.
_ Está... Desculpe o jeito
que eu falei, certo? Minha cabeça anda um tanto quente e...
_ Sem problemas. Por que a
gente não... - Rafa se interrompeu ao ouvir o toque do celular em seu bolso e pediu:
- Só um minuto.
Fernando precisou esperar
muito menos que um minuto até que Rafael desligasse o celular com o semblante
urgente.
_ O que foi?
_ Não sei. Era meu pai
pedindo que eu fosse para casa agora. Parece que foi alguma coisa com a Bia.
Incapaz de controlar sua
preocupação, Nando ergueu-se num pulo e perguntou:
_ Com a Bia? Ela está
ferida? O que...
_ Não sei! Ele parecia
preocupado... Eu vou lá. A gente se fala depois, então.
_ Espere, eu vou com você.
– declarou seguindo o amigo, porta a fora, enquanto sua mente era inundada de
hipóteses do que poderia ter acontecido com Bia, uma mais terrível que a outra.
Rafael e Fernando,
preocupados com o que iriam encontrar, não demoraram a chegar ao apartamento.
Mal entraram e Rafael foi logo sendo inquirido por seu pai:
_ Você sabia que a sua
irmã estava saindo com um homem mais velho?
_ Como é?! Eu? É lógico
que não. – Rafael se defendeu, ao mesmo tempo em que Nando sentia que estava
prestes a ser preso em uma armadilha - Quem é esse safado?
_ Ela não quer dizer! Está
tão apaixonada que só defende esse mau caráter! - dona Ana exclamou do outro
lado da sala.
Bia estava vermelha, Nando
não sabia se de raiva ou vergonha, mas mesmo assim tentou argumentar.
_ Não é nada disso! -
esbravejou, ficando de costas para Nando. - Eu já expliquei que ele só estava
me ajudando. Além do mais, não sei se vocês perceberam, mas eu já estou bem
grandinha e sei me cuidar.
_ Não está parecendo! Onde
você o conheceu, já que sua mãe não vê você saindo de casa? - Seu pai exigiu mais
uma vez. – Diz logo quem é esse homem, Beatriz!
_ Já falei que n...
_ Sou eu. - Com quatro
pares de olhos voltados para ele, Fernando engoliu em seco e se preparou para
assumir sua parte naquela história. - Eu e a Bia nós... sei lá. A Bia me pediu
e...
_ Eu já contei toda a
história pra eles, Nando.
_ Espere um pouco, para
mim ninguém contou nada. - Rafael reclamou, ainda tentando entender toda aquela
situação e encarando o amigo. - Você está saindo com a minha irmã? Você? Com a
Bia?!
_ Eu juro que não
aconteceu nada, seu Paulo. – Fernando
declarou, ignorando o queixo caído do amigo ao seu lado e, principalmente, o
vislumbre de triunfo que viu nos olhos de Bia.
_ Eu nunca poderia
imaginar, Fernando. Justo você? Pensei que dos três você fosse o mais ajuizado!
– dona Ana afirmou, deixando os ombros caírem decepcionados.
_ Querem parar com o
drama! Foram só uns selinhos para
enganar as meninas no colégio. - Bia se manifestou, irritada. - Eu tive
praticamente que implorar pro Nando me ajudar. Então, se quiserem dar uma
bronca em alguém é em mim. Deixem ele fora disso.
_ Acho melhor você ir para
casa agora, Fernando. – Rafael argumentou, com a concordância de seu pai. Todos
ali sabiam que quando Bia queria, maquinava, tramava, atazanava tanto o juízo que acabava por
levar a todos a concordarem a fazer o que ela queria. - Depois a gente conversa.
_ Tudo bem. Eu vejo vocês
depois, Rafa, dona Ana, seu Paulo, me
desculpem mais uma vez. Eu só... Eu só queria ajudar a Bia.
Fernando deu um passo para
trás, encarando a garota que lhe retribuiu com um pequeno sorriso, antes de
sair do apartamento que considerava como um segundo lar. Agora sabia o que um
rato sentia ao ser apanhado por uma ratoeira. Conhecia Beatriz o suficiente
para saber que toda aquela situação havia sido cuidadosamente alinhavada por
ela. O elevador já estava quase fechando quando ouviu Bia o chamando. Segurou a
porta do elevador com a ajuda do corpo e esperou que a garota o alcançasse.
_ O que foi?
_ Obrigada. Você não
precisava ter se entregado.
_ Precisava sim. Era o
certo. Eu não podia deixar você se responsabilizar por tudo, afinal eu sou o
adulto da relação, não é mesmo?
Bia respondeu somente com
um sorriso, fazendo menção de voltar para o apartamento quando Nando perguntou:
_ É verdade o que sua mãe
disse? Sobre você estar apaixonada?
Dessa vez, como resposta,
Bia apenas deu de ombros. Porém, antes que Fernando pudesse dizer qualquer
coisa a mais, ela tomou novamente a palavra.
_ Desculpe pelo que
aconteceu lá na sala, está bem?
_ Não precisa. Eu sabia
muito bem onde estava me metendo quando aceitei o seu plano. – Ou pensava que
sabia, admitiu para si mesmo em pensamento.
_ É só que... Eu acho tão
injusto! Se fosse daqui a um ano, ninguém poderia falar nada.
_ Oito meses.
_ Ahm?
_ Daqui a oito meses
ninguém vai poder falar mais nada.
_ Tanto faz, quase a mesma
coisa, não é?
_ Não tem problema, eu
espero.
Finalmente deixando a
porta do elevador se fechar, Nando sorriu enviesado, a imagem do rosto surpreso
de Bia ainda fresco na memória.
7 comentários:
Adorei Pri!
Amei o Nando!
alçsjdakçshdfksdhj ESTOU TENDO ATAQUES DE SURTOS MEU DEUS
Pri, sério, ñ é normal eu surtar tão fácil com um casal (19 anos de vida e só surto com dois ships, um dos quais eu surto há cinco anos, então é), mas nossa, eu já me apaixonei por eles logo de cara!
Pelo plano eu sabia o q ia rolar, mas ver na visão do Nando... E EU AMEI O NANDO! *-* Vc me conquistou mesmo quando começa a parte em q ele já está habituado a ir buscá-la.
Ta, ok, eu tenho uma leve queda por melhores amigos/irmãs (hey, meus pais se conheceram assim!), e não sei se foi isso q me apaixonou nessa história, mas sério, amei!
Em um espaço pequeno vc apresentou muito os personagens e, nossa, como eu amei o Nando, mesmo!
E que final lindoooo! *-*
Arrasou DEMAIS Pri, sério!
AH MEU DEEEEEEEEEEEUS!!!!!
Cara, a Naty me mandou esse conto e ele eh a coisa mais linda do mundo!!!! Eu sei la, mais do q o fato de eles se conhecerem desde sempre ou de terem se apaixonado, acho q oq me surtou de verdade foi ele ter dito "eu espero".
Isso foi tão, tão lindo!!!! EU AMEI cada pedacinho dessa historia! Pode ter certeza q vou mostrar p todo mundo!!!
Parabens! Maravilhosa historia!
Meus favoritos de sempre. Amooo esses dois. Compartilho com o maior prazer, pois sempre é uma delícia ler e reler as estripulias da Bia... e a fofice do Nando! :D
Quer dizer q há mais coisinhas Bia e Nando? :o CADEEEE?
Postado não tem não Naty... :P
Obrigada a Ligya, Naty, Vickytokio e Lica, pelos comentários maravilhosos!
Adoro seus romances. Isso é um fato irrefutável! =D
Beijos, querida!
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