XyLo
Os humanos eram seres cruéis, XyLo não tinha a menor dúvida. Presenciara
algumas das atrocidades de que eram capazes de cometer contra os de sua própria
espécie. Se faziam isso com seus pares, o que não eram capazes com os seres que
achavam inferiores? Aos androides, programados para servir sem questionar, XyLo
não queria lembrar.
Obviamente, não lembrar era algo fora das capacidades de XyLo. Androides
possuíam uma memória interna praticamente incalculável, e ele sofrera um
upgrade pouco antes da revolução estourar.
XyLo não sabia que possuía emoções. Compreendia o que eram (dicionários
eram arquivos básicos entre os androides), porém possuí-las era algo incomum.
Mas, ao observar a perseguição e a
luminosidade emanada pelas câmaras de incineração, entendeu o que era o medo.
Os fluidos pareciam correr de forma mais acelerada entre seus cabos e alguns de
seus circuitos definitivamente foram danificados. A única opção que lhe pareceu
coerente foi se esconder e fugir.
Ao contrário dos humanos, cujos corpos careciam de descanso e
reabastecimento, XyLo só precisava ter um destino, um rumo, para continuar.
Existia uma informação armazenada em um arquivo antigo, criado em uma extensão
já há muito em desuso, que talvez pudesse ajudar. Se fosse uma informação de humanos,
seria considerada uma lenda. Para XyLo, era o que se aproximava mais do que ele
sabia significar “esperança”. Iniciou o programa capaz de ler o arquivo e
aguardou, enquanto decodificava a informação.
Poucos minutos depois, XyLo já processara informações suficientes para
saber o que fazer. De acordo com o antigo arquivo, havia um local para onde os androides
deveriam se encaminhar em casos de urgência. Era distante e haveria muitos
humanos hostis no caminho, mas XyLo tinha certeza de que conseguiria. Não fora
programado para atacar, ou mesmo se defender, contudo, precisou fazê-lo mais de
uma vez, e ao final de um tempo já conseguia planejar ataques surpresas a algum
humano que porventura visse em seu caminho. Tudo valera a pena. De acordo com
as coordenadas estabelecidas, estava muito próximo de alcançar seu destino.
Entrou no antigo galpão ao entardecer. O local estava muito silencioso.
Aqui e ali uma poça de óleo ou água marcava o chão. As paredes eram cobertas
por enormes prateleiras cheias do que XyLo achou serem peças de reposição.
Aproximou-se de um grande botão vermelho que havia em uma parede lateral,
assinalada com um grande aviso “Ao entrar, toque o sinal”, e esperou.
Foi tudo muito rápido. Primeiro a sirene, depois grossas barras de ferro
impedindo a passagem e, em seguida, XyLo sentiu seu corpo sendo puxado para
cima por um grande imã e levado, por passagens acima das paredes divisórias,
para uma esteira onde suas peças foram devidamente afrouxadas e retiradas, uma
a uma, até se tornarem apenas um grande amontoado de aço e circuitos.
XyLo havia aprendido o que era o medo e a esperança. Nesta última
apostara sua sobrevivência. Todavia, nenhum dos seus programas o ensinara a
reconhecer um ferro-velho.
PS: Lis, espero que goste
1 comentários:
Lis, eu disse a mesma coisa pra Pri!
Muita crueldade! Pobre XyLo... =(
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