Reginaldo agarrou-se ao
balcão quando o mundo, de repente, começou a girar ao contrário. É claro que
não foi tão de repente assim, ele sabia. Como sabia também que o efeito das
inúmeras doses de cachaça que acabara de tomar somente iria passar no dia
seguinte, depois de uma boa e dolorosa ressaca. Porém, como o garçom só estava
esperando-o sair para fechar o bar, Reginaldo decidiu voltar para casa. Não que ele quisesse, era penoso demais
entrar naquele sobrado e não encontrar mais Doralice.
Doralice era a razão de
seus dias, a alegria de suas noites, o fogo em suas veias. Fazia agora três
dias desde que a mulata sumira. E a partir de então, Reginaldo era um nada. Ele
procurara e perguntara, mas nenhuma das vizinhas fofoqueiras vira alguma coisa.
Tudo que restara a ele fora a promessa que os meganha fizeram de que iriam procurá-la.
Nem o ar frio da noite
fez com que o cérebro de Reginaldo entrasse nos eixos, enquanto ouvia a velha
porta de ferro do bar ser fechada atrás de si e ajeitava o surrado chapéu
panamá sobre sua cabeça. Cambaleando, Reginaldo só se deu conta de que estava
sendo seguido ao tropeçar e precisar de um tempo para firmar-se novamente de
pé, avistando os dois homens alguns passos atrás. As usuais lâmpadas queimadas
não deixavam que visse seus rostos, mas o arrepio que percorreu sua espinha o
avisou de que não eram boa companhia.
Se fosse numa outra
hora, talvez num dia em que Doralice não estivesse sumida e ele estivesse
sóbrio, Reginaldo provavelmente daria conta dos dois. Ele era fraco pra bebida,
mas seu porte normalmente desestimulava brigas.
Fingindo não ter
percebido nada e torcendo para que a tensão jogasse logo adrenalina em seu
organismo o suficiente para clarear suas ideias, Reginaldo percorreu os metros
que faltava até a esquina da rua que dava na entrada do morro. Se chegasse até
lá estaria seguro. Conhecia aqueles becos e vielas como ninguém. Contudo, assim
que dobrou a rua, precisou parar e respirar fundo. Sua cabeça voltara a
rodar...
Suando frio, Reginaldo
tentou correr e se afastar. Os dois homens estavam muito perto agora. Era até
estranho que ainda não conseguisse ver seus rostos, mesmo na penumbra. Começou
a sentir alívio ao alcançar o pé da ladeira. Ali eles não se atreveriam a
entrar, quem quer que fossem. E, se precisasse, era só chamar o Leco para
ajudar. Ninguém se metia com o Leco...
_ Doralice te mandou um
recado.
Ao ouvir aquelas
palavras, Reginaldo estacou. Mais que o tom informal, quase debochado, do
aviso, foi a voz de quem o pronunciou que fez seus olhos se arregalarem de
susto. Jamais imaginara que ouviria aquela voz de novo. Não depois de todo
aquele tempo.
2 comentários:
E???????????????????????????????????????
E o resto?!?!?!?!!?!?
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