Era uma época em que os dragões ainda aterrorizavam os povoados aqui e ali e as pessoas tinham receio do desconhecido. Numa campina junto ao rio que cortava a aldeia onde eu morava, existia uma torre tão alta que ultrapassava a copa das árvores e fora construída há tanto tempo que todo o povo acreditava que tivesse surgido junto com o mundo.
As crianças da minha aldeia aprendiam desde cedo a não se
aproximar daquele lugar. Mas qual de nós nunca se sentiu atraído por aquelas
pedras cheias de brilho, que refletiam o luar nas noites sem nuvem? É verdade que não conheci ninguém que tivesse conseguido entrar na
torre da campina. Fora Olaf. Mas Olaf vivia inventando histórias e enredando o
povo em suas mentiras, então não posso acreditar em nada do que ele falou.
A começar pelo canto ritmado do pássaro que o atraiu a uma pequena
porta de carvalho lustroso, que surgiu na parte da torre virada para as
montanhas. Eu mesmo já circundei toda a campina tentando encontrar um modo de
entrar e nunca, nenhuma vez, vi nada parecido.
E depois, aquela história de uma escada que parecia interminável em que ele, incansável pela curiosidade seguiu até o topo, ou as paredes que
aparentavam não existir e deixava-o ver todo o vale e além dele, quando todos
nós sabíamos que não há nem uma mísera janela em toda aquela torre. Contudo,
devemos admitir que no final ele ter encontrado uma velha mais velha que o
tempo, de pele mais fina que um fiapo de nuvem e mais enrugada que uma passa
foi o mais absurdo. Olaf contou que ela, a velha, abriu um sorriso sem dentes e
lançou um olhar de indecente felicidade ao vê-lo, que lhe arrepiou todo corpo
até a alma. A velha então lhe falou palavras num dialeto estranho, que deixou
seus sentidos em alerta e depois soprou em seu rosto um pó negro que fez com
que ele perdesse os sentidos.
É claro que nem os pastores que o encontraram caído junto às
primeiras árvores da floresta, nem ninguém na aldeia acreditaram naquela
história que Olaf contou. Nem mesmo quando a febre começou e nunca mais cessou.
Nem mesmo quando seus olhos já embaçados imploraram para que crêssemos nele, antes
do último suspiro. Nem mesmo hoje, quando meus netos vagueiam junto à torre da
campina buscando descobrir um modo de entrar.
4 comentários:
Pri, amada!! Adorei o miniconto!!
Vc tem futuro amore! Continue escrevendo, quero ler maisss!!!
super bjooooo
Adorei! Dragões, castelos e cavaleiros estão entre minhas favoritas.
Cruzes! Medo dessa velha louca... que não deve ter apenas loucura...
Tô com a Lis.. imagina uma história baseando-se nisso? Por que está presa? O que levou essa prisão?
Baaahh, quero um livro inteiro puxado por esse conto!
Luisa Lima
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